Anestesia

História, Conceitos Básicos e Tipos de Anestesia

Como Funciona a Anestesia

História da Anestesia



Antes da introdução da anestesia com o éter dietílico, muitos cirurgiões acreditavam que a dor era, e deveria sempre ser, uma consequência inevitável da cirurgia. Durante este período os pacientes candidatos a qualquer procedimento encaravam tal momento como o de sua “execução”, tais eram os riscos de sentir dor intensa, ocorrer hemorragia, choque e infecção pós-operatória.

anestesia florianopolisHavia, desde os primórdios da cirurgia, uma certa negligência no controle de dor. Os procedimentos eram tecnicamente realizados de forma desumana, sendo considerados “aptos” os cirurgiões que operavam o mais rápido possível, assessorados pelos “homens-bons” (homens fortes que mantinham os pacientes imóveis utilizando a força física). Tentou-se também soluções paliativas, como o uso de altas doses de álcool ingerido, ervas ou aplicações de gelo.

Esta forma de abordagem prevaleceu até meados do século XIX, quando surgiu a utilização clínica do éter e do óxido nitroso como agentes anestésicos. Esses dois agentes já eram conhecidos há muito tempo, porém eram utilizados de forma recreacional em festas ou mesmo como demonstração pública de efeitos hilariantes do óxido nitroso.

Coube ao dentista prático William Thomas Green Morton, aos dezesseis dias de outubro de 1846, no anfiteatro cirúrgico do Massachussets General Hospital em Boston/EUA, demonstrar oficial e publicamente a utilização clínica do éter como anestésico em procedimento cirúrgico, em ambiente acadêmico.

O professor John Collins Warren extirpou uma lesão vascular na região cervical do paciente Edward G. Abbott após a aplicação do éter por via inalatória através do dispositivo idealizado por Morton. Iniciou-se assim uma das maiores contribuições à evolução médica em todos os tempos. Ocorreu o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais complexas graças ao controle da dor e estabilização clínica dos pacientes operados. Cunhou-se, assim, o termo “anestesia”: estado de abolição da dor.

Conceitos básicos da Anestesia



Considera-se que a anestesia possui como objetivos primordiais os seguintes tópicos:

    • Analgesia: controlar ou abolir a sensação dolorosa
    • Hipnose: perder a consciência ou incapacidade de percepção do meio
    • Relaxamento muscular: proporcionar a imobilidade do paciente e facilitar acesso cirúrgico
    • Controle de Sistemas Fisiológicos: monitorar e controlar todos os sistemas orgânicos durante a cirurgia
    • Reversibilidade: restabelecer, ao término do procedimento, as melhores condições clínicas possíveis ao paciente. Para isso, o anestesiologista lança mão de diversas técnicas, um arsenal vastíssimo de drogas e equipamentos com o intuito de obter os melhores resultados.

A formação do anestesiologista é bastante extensa.

Cursa-se a graduação de Medicina (seis anos de duração) e, posteriormente, faz-se o Curso de Residência ou Especialização em Anestesiologia (três anos) em Centros de Ensino e Treinamento (CET) credenciados pela Sociedade Brasileira de Anestesia (SBA).

Tipos de Anestesia

Anestesia Geral

Na anestesia geral existe a perda completa da consciência, utilizando-se uma série de drogas de forma combinada. As medicações são administradas por vias diversas (endovenosa, inalatória, etc.), com o objetivo de cumprir os objetivos primordiais da anestesia (amnésia, controle da dor, imobilidade, estabilidade clínica e retorno posterior). Cada droga possui um objetivo específico. Na grande maioria das vezes há necessidade de entubação traqueal para controle da ventilação pulmonar, sendo este procedimento realizado após a perda da consciência e relaxamento muscular. Atualmente dispomos de uma série de equipamentos de monitorização para aumento da segurança e conforto. Em nossos serviços, possuímos equipamentos de monitorização da atividade elétrica cerebral com sua análise biespectral (EEG-BIS). Trata-se de sistema de última geração que nos informa o grau de profundidade do plano anestésico prevenindo memória para eventos intra-operatórios, bem como sobre doses de medicações anestésicas. Favorece, assim, a segurança e uma recuperação mais precoce do procedimento anestésico.

Bloqueios Regionais

Técnica anestésica que consiste na injeção do anestésico local em áreas próximas aos plexos nervosos de um determinado território do corpo. Exemplos: bloqueio do plexo braquial na região do pescoço para anestesia do braço e ombro, bloqueio do pé ao nível do tornozelo para cirurgias nestes locais, etc. Podemos identificar essas estruturas por meio de ultrassonografia ou um equipamento para localização exata destes plexos (STIMUPLEX® ) e injeção do AL próximo aos mesmos, aumentando eficácia e segurança. Este tipo de anestesia pode ser ou não associada à sedação com o mesmo objetivo descrito anteriormente.

Anestesia Local

Tipo de anestesia utilizada, geralmente, para procedimentos mais simples e em ambiente ambulatorial. Nela, injeta-se o anestésico local (AL) na área próxima a ser operada. É muito usada em retiradas de nevus (“pintas”), suturas, correções de cicatrizes e ressecções de pequenos tumores de pele. Pode ser associada à sedação com supervisão do anestesiologista, o qual controlará os parâmetros vitais do paciente (pressão arterial, frequência cardíaca, oxigenação sanguínea, etc). Esta sedação tem o objetivo de reduzir a ansiedade do paciente, trazendo maior conforto.

Bloqueios do Neuroeixo

a) Anestesia Peridural: neste bloqueio injeta-se o AL no espaço peridural. Este espaço envolve os nervos que saem da medula e tem a sustentação da coluna vertebral. A anestesia pode ser realizada com o paciente assentado ou deitado de lado com as pernas encolhidas. Geralmente indica-se a anestesia peridural para cirurgias de abdome ou membros inferiores. Pode ser ou não associada à sedação. Em obstetrícia não se utiliza rotineiramente a sedação, devido à chance de passagem do sedativo para o feto, levando a problemas respiratórios no mesmo.

b) Raquianestesia: Anestesia semelhante à descrita anteriormente, porém a injeção do AL se faz no espaço subaracnóideo após perfuração da dura-máter. A dura-máter é uma membrana que envolve o sistema nervoso central e é banhada pelo líquor. As indicações são semelhantes às da anestesia peridural, sendo bastante utilizada em obstetrícia. Após a realização de qualquer procedimento anestésico, o paciente passa por um período de observação em local específico para tal fim (Sala de Recuperação Pós-Anestésica – SRPA). Este espaço é dotado de todas as facilidades para atendimento de quaisquer intercorrências clínicas potenciais, sendo contígua aos blocos cirúrgico e obstétrico. Possui pessoal médico e de enfermagem habilitado para sua assistência.

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